Pawel Kuczynski e a crítica à sociedade moderna

Pawel Kuczynski, artista polônes especializado em ilustrações críticas e inteligentes. Nascido em 1976 em Szczecin, Pawel se formou em Artes pela Academia de Belas Artes de Poznan.

A maior parte de suas obras de arte estão relacionados com temas sérios e tem cunho histórico que remetem a pobreza, a fome, a guerra, o trabalho infantil, a corrupção política, a poluição, a exploração e a desigualdade social. Mas enquanto o assunto histórico é gritante, a ilustração em si é quase caricatural e satírica sem perder a veia da crítica social ferina e inteligente. Abaixo você encontrará uma seleção de ilustrações. Note que, ás vezes, você olhará uma, outra vez e mais uma para ver o real conceito da ilustração.


 





























Para saber mais acesse o Site oficial do artista.

Crackland - As marcas do vício.


Por um ano, o italiano Alessio Ortu, 32 anos, visitou quinzenalmente a região da Cracolândia, centro de São Paulo, para fotografar os viciados. O trabalho, realizado sem apoio financeiro, resultou no livro Simulacrum Praecipitii – A visão do abismo e em um documentário dirigido por Humberto Bassanelli e apresentado no último festival É Tudo Verdade. Em setembro, vira exposição no Palácio da Justiça, na capital paulista. “Quero que estas imagens sejam como um soco no estômago de quem vê”, diz o artista, que vive no Brasil desde 2009.

Como você abordava os craqueiros? Saía andando em busca deles. Era preciso rapidez, porque são como fantasmas. Você se distrai um segundo e eles somem. Tem de ficar ligado porque, a alguns metros, ficam centenas de outros craqueiros. Não são todos bonzinhos, há criminosos e os traficantes. Tem bastante tensão envolvida, é uma energia pesada.

Como os convencia a se deixar fotografar? A maioria das vezes eles pediam dinheiro, e eu dava R$ 5. Dinheiro é uma linguagem universal. Com dinheiro, eles compram o que querem. Nem sempre é crack, às vezes é um suco, um lanche, uma diária num hotel para dormir e tomar banho.

Seu trabalho se concentra nas mãos dos personagens. Por quê? As mãos documentam a ruína dessas pessoas. É por meio das mãos que chegam àquele estado de desgraça, preparam a droga, pedem dinheiro. As mãos são queimadas pela manipulação de isqueiros e cachimbos quentes, e sujas, porque muitos procuram comida no lixo, dormem no chão e catam material reciclável para sobreviver.

Qual história mais te impressionou? A do Jonatas, um menino cego que mora na rua e usa crack. Ele pede dinheiro no farol e só consegue sobreviver graças à ajuda de outros craqueiros, que o auxiliam nas operações cotidianas, inclusive a fumar pedra. Ele apareceu do nada enquanto eu estava fotografando outro cara, o Gerson. Jonatas estava com os olhos sujos e Gerson pegou sua própria camiseta e o limpou com ela. Foi uma cena que me mostrou como, mesmo nessa condição miserável de degradação total, de dependência química arrasadora, ainda existe espaço para calor humano, 
generosidade, companheirismo.







Para saber mais, acesse: www.alessioortu.com

Entrevista concedida a revista Trip.

iDiots – um curta sobre obsolescência programada

O curta-metragem iDiots retrata de forma humorística a obsolescência programada nos dias atuais. Apesar do humor, os robôs tratam de um assunto muito sério ainda desconhecido por muitas pessoas.
O filme foi feito pelos estúdios da BLR –  sigla para Big Lazy Robots, algo como Grandes e Preguiçosos Robôs, que tem esse nome porque a empresa demorou muito a crescer e se tornar o que hoje é: Um estúdio que faz filmes comerciais para grandes marcas, mas jamais esqueceu o seu lado autoral e crítico.


Assista o curta:


Para quem não ouviu falar sobre o tema, trouxemos um texto escrito pela jornalista Júlia Braga onde enriquece o debate sobre a sociedade consumista atual.


A Obsolescência Programada ocorre quando um produto lançado no mercado se torna inutilizável ou obsoleto em um período de tempo relativamente curto de forma proposital, ou seja, quando empresas lançam mercadorias para que sejam rapidamente descartadas e estimulam o consumidor a comprar novamente.

Desde a Revolução Industrial, a relação entre consumo, indivíduo e sociedade tem sido uma das principais discussões dentro das Ciências Humanas, que buscam, desde então, entender e explicar como o novo modo de produção transforma e afeta a sociedade moderna. Com a produção em massa, surgia também a necessidade da indústria de conhecer melhor o perfil dos seus consumidores e, principalmente, de criar novas maneiras para incentivá-los a comprar cada vez mais. Foi na década de 1920 que a indústria de lâmpadas decidiu então aplicar o conceito de “obsolescência programada” na linha de produção, o que reduz a vida útil dos produtos para que o consumidor tenha de trocá-lo com mais frequência.

A ideia de diminuir o tempo de uso de produtos apareceu pela primeira vez em 1925, quando o cartel Phoebus, formado pelos principais fabricantes de lâmpadas da Europa e dos Estados Unidos, decidiu reduzir o tempo de duração de suas lâmpadas de 2.500 para 1.000 horas, a fim de aumentar o lucro das indústrias filiadas. No entanto, o conceito de “obsolescência programada” só viria a ser criado mais tarde pelo norte-americano Bernard London, um investidor imobiliário, que sugeria a obrigatoriedade de uma vida útil mais reduzida para os produtos, como forma de impulsionar a economia, que passava pela crise de 1929.

Considerada um tanto radical para a época, a ideia de London não foi colocada em prática no início da década de 1930, mas sim durante a década de 1950 pelo designer industrial Brooks Stevens, que já era famoso por seus desenhos modernos no desenvolvimento de produtos. Stevens defendia veementemente a obsolescência programada e argumentava que esta dependia do consumidor: todos os consumidores desejam novos produtos no mercado e são livres para decidir comprá-los ou não, independentemente da duração dos mesmos. Com a redução da vida útil dos produtos e o desenvolvimento da propaganda, o desejo de possuir o novo era cada vez mais incitado no consumidor, que deixava de comprar por necessidade para consumir por hábito.

Além da relação do consumidor com o produto, o professor da Universidade de Weimar, Markus Krajewski Krajewski, afirma que outro marco da obsolescência programada consiste na qualidade dos produtos, que antes eram fabricados para serem reutilizados e consertados e, desde a propagação do conceito na indústria, são produzidos para que sejam substituídos o mais rápido possível. “Se uma mesa não quebra sozinha, dentro de um certo tempo de uso, o próprio fabricante estipula seu prazo de validade”, explica Krajewski. Segundo o professor, é provável que rachaduras sejam inseridas na madeira do pé da mesa de forma imperceptível para o consumidor, que enxerga as mesmas como um desgaste natural do próprio objeto e não um defeito proposital para reduzir a vida útil do produto.

Cultura de consumo e produção de lixo eletrônico

A redução da vida útil dos produtos chamou a atenção da cineasta alemã Cosima Dannoritzer, que decidiu investigar os rumores comumente disseminados pelos mais velhos de que “antigamente as coisas duravam mais”. Para surpresa de Dannoritzer, “a verdade era ainda mais estranha do que os próprios rumores”. Em seu documentário The Light Bulb Conspiracy (2010 – A Obsolescência Programada), a cineasta percorre vários países para tentar compreender a influência deste conceito na nossa sociedade. Ela mostra como este modo de produção e de consumo mudou a relação do indivíduo com o produto, gerou inúmeras consequências ambientais e também propiciou a ascensão de resistências dentro da sociedade contra o consumismo ilimitado.

No documentário, Dannoritzer reflete sobre as relações de poder sócio-econômico dentro deste sistema de consumo e suas consequências ambientais. Uma delas é o crescente número de resíduos eletrônicos – computadores, celulares, chips etc – que, muitas vezes, são transportados e despejados em países em desenvolvimento, embora haja um tratado que proíba este tipo de prática. Em seu documentário, a cineasta registra tal descaso ao mostrar Agbogbloshie, no subúrbio de Accra, em Gana, que tornou-se um depósito de lixo eletrônico de países desenvolvidos como Dinamarca, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, que enviam seus resíduos sob o pretexto de ajuda ao país de “Terceiro Mundo”, alegando que estes eletrônicos ainda podem ser reutilizados. No entanto, Dannoritzer aponta em seu filme que mais de 80% desses resíduos são, de fato, lixo. E não podem mais ser reciclados ou sequer reaproveitados.

A produção de resíduos eletrônicos está diretamente relacionada ao poder econômico: os países que possuem maior renda, consomem mais e, consequentemente, produzem mais lixo eletrônico. Em uma rodada de discussões dentro da Rio +20 sobre a produção desses resíduos sólidos (Lixo eletrônico: impactos e transformações - Roda de Conversa Rio+20), a especialista do Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Andréa Caresteada, reforçou esta relação ao falar sobre o crescimento da classe média no Brasil que, segundo ela, já alcançou o número de 100 milhões de pessoas. A especialista relata que, com o aumento de poder de compra, cresceu também o consumo de eletroeletrônicos que correspondem a eletrodomésticos, computadores e celulares, por exemplo. Caresteada admite, no site do evento, haver uma disparidade entre o poder de aquisição e educação ambiental, pois ainda falta consciência quanto à produção de resíduos eletrônicos e ao hábito de consumo.

De acordo com Krajewski, uma das grandes diferenças entre países industrializados, como a Alemanha e os Estados Unidos, e os emergentes, como a China e o Brasil, é o fato de a maior tradição da obsolescência programada nos primeiros possibilitar a instituição de um movimento de resistência, tanto na esfera política quanto na cultural. Na arquitetura e em determinados setores da manufatura, na Alemanha, o professor observa, por exemplo, que ainda há preferência pela durabilidade em vez do desgaste rápido de materiais através do “Manufactum-Prinzip” (princípio de manufatura), termo criado por uma cadeia de lojas de mesmo nome, cujo slogan é “Es gibt die noch, die guten Dinge” (Elas ainda existem, as coisas boas).

Porém, o documentário de Dannoritzer indica que ainda há falta de responsabilidade social de países industrializados em relação a resíduos eletrônicos. Nas cenas que retratam o lixão de Agbogbloshie, o ativista ambiental Mike Anane mostra o local onde os restos de computadores, impressoras e outros eletrônicos são despejados. Ele cresceu na região e conta que, onde agora há somente lixo, antes passava o rio Odaw. No local havia uma comunidade de pescadores, onde ele próprio passou parte de sua infância. O documentário de Dannoritzer mostra que hoje, no lugar das crianças e dos pescadores, jovens de famílias pobres queimam os objetos despejados para retirar o plástico e guardar o metal, para que este seja vendido e possivelmente reutilizado.

Tecnologia, arte e resistência

A professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia, Karla Brunet, afirma que há grande descaso com as consequências sociais e ambientais causadas pelo consumismo desenfreado. Ela lembra que o conceito de obsolescência programada, criado no início do século XX, continua o mesmo, mas é hoje utilizado sob outra ideia de tempo: “Nossa vida está mais acelerada, então a própria vida útil de um produto está menor, pois tudo está mais rápido, queremos tudo mais rápido. Um produto que no passado tinha vida útil de quatro anos, certamente dura menos hoje em dia”, explica Brunet.

Como o novo torna-se ultrapassado em pouco tempo, há sempre maior necessidade de comprar para que possamos ter a sensação de pertencer a determinado grupo social e também de estar em dia com a tecnologia. Brunet considera a publicidade uma das principais ferramentas para incitar o desejo de consumo na sociedade atual, por ela ser realizada de forma mais sutil que no passado. Muitos usuários do Facebook, por exemplo, “curtem” páginas de marcas, sob a impressão de que estão afirmando algo de si mesmos, quando na verdade estão fazendo propaganda para a própria marca. A publicidade e a constante produção de novos modelos de tecnologia instigam o desejo de consumir, porque elas geram a sensação no consumidor de que ele “precisa” de determinado objeto e, se comprá-lo, terá uma sensação de satisfação e pertencimento a um determinado grupo social.

Lucas Bambozzi: Das coisas quebradas

É o que acontece com celulares. As empresas lançam modelos incessantemente e, em um ano, o aparelho já é considerado ultrapassado. O artista Lucas Bambozzi aborda o tema em sua obra, criticando diretamente o consumismo regrado pela obsolescência programada. Em vários trabalhos, como Da Obsolescência Programada (2009), Mobile Crash (2010) e Das Coisas Quebradas (2012), Bambozzi utiliza a tecnologia de sensores para captar ondas eletromagnéticas de celulares, que ativam o funcionamento de diferentes máquinas. Segundo o artista, sua obra tenta discutir “a instabilidade das mídias, as oscilações de linguagem percebidas nos meios de produção técnica de imagem, o caráter anacrônico dos meios audiovisuais em tempos de portabilidade, o consumismo e o fetiche ligado aos sistemas tecnológicos”.

Em Das Coisas Quebradas (2012), Bambozzi reflete sobre tecnologias de consumo, lembrando que o consumidor também faz parte desse sistema. Na “instalação-máquina”, um sensor capta as ondas eletromagnéticas de celulares do público, para ativar uma máquina que despeja celulares (um de cada vez) em de um compartimento, onde são esmagados. Sendo assim, quanto mais as pessoas no ambiente utilizam o celular, maior é o funcionamento da máquina e mais celulares são destruídos – numa crítica direta ao papel do próprio consumidor na cultura do uso e rápido descarte, regido pela obsolescência programada.

Neste contexto, a arte passa a exercer uma função de resistência ao consumismo desenfreado, pois a partir do momento em que o observador se depara com tal crítica, ele começa automaticamente a refletir sobre seu próprio hábito de consumo e a adquir consciência de que também faz parte do mecanismo deste sistema. Dannoritzer acredita que precisamos nos afastar deste consumismo para evitar o esgotamento de fontes naturais e reduzir a produção de lixo. Para ela, já há várias pessoas que “estão se afastando disso com atitudes diárias, pois percebem que o consumo não é a única fonte de felicidade”. Já Krajewski é mais pessimista, ao apontar que “as empresas lucram demais com este sistema para mudá-lo, mesmo aquelas pseudo-verdes, que existem sob a camuflagem do ecologicamente correto”. Ainda assim, ele defende que os próprios consumidores têm o poder de evitar determinados produtos e, assim, agir com consciência dentro da atual sociedade de consumo: “Juntos somos muitos”, lembra o professor.

Texto escrito por Júlia Braga, jornalista e tradutora.


Assista o documentário sobre a obsolescência programada:



A essência

Boa tarde, Suburbanous!

Primeiramente, gostaria de agradecer o apoio dos amigos na divulgação da página e a todos os elogios que recebemos dos que gostaram do nosso trabalho.


Eu sei que essa ideia é uma parceria e estou escrevendo em primeira pessoa,
mas até agora ninguém deixou claro qual é a essência e proposta do Suburbanous. Sem essa cumplicidade, não sentiria o sabor do âmago desse projeto.

Ontem à noite estava procurando alguma matéria interessante para postar no blog. Fiquei aflita porque, no vai e vem dos cliques na madrugada, não encontrei algo que realmente fosse relevante e que condiz com a proposta do blog. Obviamente, não há como desmerecer toda a riqueza que há nos sites que acesso com frequência, inclusive posso citar e indica-los enriquecedor cultural como o Carta Capital, Hypeness, Mistura Urbana e etc.
É importante mencionar que nasci e cresci num ambiente onde não existe a valorização cultural, onde o artista é intitulado como "louco" e como alguém que será frustrado a vida inteira por não ter dinheiro para adquirir bens materiais. Cresci num ambiente onde tudo é produto barato e que deve ser vendido. Cito meu pai como exemplo do último. Um artista não desenvolvido, mas com uma capacidade brilhante de criação e inspiração, que vendeu sua arte desde os 17 anos para alimentar sua esposa e suas duas filhas.

Tenho orgulho de dizer que tive uma herança musical muito forte dos meus pais. Desde pequena acostumada ouvir de Caetano e Pink Floyd. Minha curiosidade pela música sempre foi uma fonte de águas abundantes e limpas. Através da música, conheci o cinema, literatura, arte visual, teatro, música erudita e pessoas do ramo artístico.

Mais tarde, conheci a política. Eu me encaixava perfeitamente naquela definição em que o Bertolt Brecht fala do "analfabeto político."Não aprendi a gostar de política  na escola. Eu não ouvia, não falava e não participava dos acontecimentos políticos. Preço do feijão? Custo do remédio? Uma analfabeta burra.
Entre esse período que me dediquei a estudar o básico sobre política, as manifestações no Brasil eclodiram, o que foi um trampolim para a paixão pela política florescer e a fonte de inspiração do nascimento desse projeto que é uma parceria. Descobri que a televisão manipulava pelas redes sociais. Uma desilusão.
Sou de esquerda. Quem é de esquerda sabe que há algo de muito errado com esse país. Sente a fome dos esfomeados, sabe do genocídio de nossos índios e negros . O governo declara guerra aos pobres e desfavorecidos todos os dias!

Suburbanous nasceu da fusão da política com a arte. Essas duas coisas que são necessárias para formar um pensador, estão fundidas na essência desse projeto, que começou quando eu e minha parceira tivemos a ideia de aplicar a tecnica stencil nas camisas, desenhando nossos idolos, criticando o governo e disseminando a arte. Além de criarmos decorativos artesanais, criamos Eco Bags que serão vendidas na loja virtual.  Direito constitucional, somos manifestantes! Vamos usar a arte como forma de protestar, colorindo a cidade e fazendo intervenções urbanas, onde todo o conteúdo será exibido no site, que também haverá um espaço aberto para os artistas da cena alternativa.

Suburbanous ainda está no seu processo de criação, desenvolvimento e formação de público. Quando citei no início do texto que não encontrei o que procurava para o blog, tive uma epifania de que preciso por a essência dessa ideia nele e tentar expor para vocês que admiram nosso trabalho, que não precisamos por algo no blog, feito um golpe de marketing, que vai chamar sua atenção só porque é bonito, legal ou divertido. A nossa intenção é levar algo legítimo até as pessoas, o conhecimento através da arte.




Gráfico mostra 463 contradições da Bíblia

O programador e designer Daniel G. Taylor criou o Projeto Bib Viz, um gráfico que mostra 463 contradições existentes na Bíblia. No gráfico, cada linha vertical azul representa um capítulo diferente da Bíblia, ordenado cronologicamente, enquanto os arcos vermelhos representam uma pergunta cuja resposta pode ser encontrada no livro. Essas perguntas lidam com questões triviais, como, por exemplo, “É correto usar perfume?” ou “É permitido comer carne?” e com as mais monumentais questões jamais formuladas pela humanidade, como “Deus criou o mal?”. Para saber a resposta – ou melhor, respostas, já que Taylor só apresenta as perguntas que têm mais de uma resposta na Bíblia – basta clicar num arco vermelho, digitar a pergunta numa caixa à esquerda ou tentar encontrá-la numa lista provida pelo site. O site por enquanto está disponível em inglês, mas ele contém uma ferramenta que permite que você mesmo traduza qualquer pergunta, que no futuro passará a ser disponibilizada no seu idioma.

Taylor afirma que o site é tanto para os céticos quanto para os fiéis que desejem conhecer melhor a Bíblia, mas é inegável que a visão do livro sagrado que o projeto apresenta é crítica. Além do gráfico com as perguntas, no site há outros que mostram o número de vezes que podem ser encontrados, em cada capítulo da Bíblia, versos que contêm absurdos científicos e erros históricos, crueldade e violência, misoginia, violência e descriminação contra a mulher e descriminação contra homossexuais. Só em Gênesis, por exemplo, o BibViz aponta 156 versos que considera degradantes às mulheres. Além desses gráficos todos, o site tem também links para livros sobre o ateísmo e alguns vídeos do YouTube que mostram debates sobre a fé, para não falar de alguns dados demográficos sobre as crenças dos americanos – como, por exemplo, o fato de que 45% deles acredita na versão criacionista de que a Terra foi feita por Deus e tem menos de 10.000 anos de idade.

Suburbabous indica: Cidade Cinza

Destaque no maior festival de documentários da América Latina, o filme “Cidade Cinza” que fala sobre a cultura do grafite e como ele é tratado na cidade.
O filme gira em torno de alguns dos mais importantes nomes do graffiti do Brasil, que conquistaram espaço e valorização ao redor do mundo: Os gemeos, Nunca e Nina. Entretanto, por mais talentosos que sejam, eles têm seus trabalhos cobertos por cinza devido a uma lei de combate à poluição visual da prefeitura de São Paulo. Estranho pensar que o trabalho de grafiteiros seja apagado das ruas, já que São Paulo é uma cidade importantíssima na trajetória de quem adere a esse estilo.

Ao mesmo tempo que vemos isso acontecer na selva de pedras brasileira, os artistas citados acima ganham cada vez mais reconhecimento no exterior, sendo por vezes convidados a estamparem a seus desenhos pelos muros de outros países. Com trilha sonora por Daniel Ganjaman, “Cidade Cinza” mostra as ruas, palco da vida de milhões de pessoas, que perdem a riqueza cultural das cores e traços que são constantemente banidos pelo governo. A não valorização do graffiti é a não valorização da própria cultura regional brasileira, que foi agregada ao estilo de grandes artistas, como, por exemplo, Os gemeos.





Assista o trailer:




A escravidão moderna

Lisa Kristine, ativista há 28 anos, retratou diversas culturas ao redor do mundo. Um tema desconhecido para ela até então, deparou-se com a escravidão moderno. Ao saber que existem mais de 27 milhões de pessoas escravizadas pelo mundo, ficou envergonhada.

A série Modern Day Slavery, toca na ferida de uma forma dolorosa ao retratar o peso de ser um escravo moderno.















Na sua intervenção na conferência TED, em janeiro de 2012, a fotógrafa deixa o alerta, com episódios e imagens impressionantes.



Vinte de novembro.

Na favela, uma criança pobre e negra corre pelas vielas mas não sabe que hoje, dia 20 de novembro, se comemora o dia da consciência negra, pois onde ela mora não tem escola.

Na prisão, jovens negros se esqueceram do dia de hoje, isolados, animais carcerários, presos, porque queriam apenas matar a fome.

Na rua, um homem negro é assassinado e minutos antes de morrer, lembrou que leu no jornal que a chance de um jovem negro ser assassinado é 139% maior que a chance de um jovem branco.

Uma jovem negra e empregada doméstica precisou acordar as seis horas da manhã para ir trabalhar. Passou na TV, mas não entendeu quando o homem do jornal disse que 60,9% das empregadas
domésticas são mulheres negras.

Em memória de Zumbi, herói do povo brasileiro, relembramos a força desse povo. Mas não esqueceremos, JAMAIS esqueceremos que os negros de hoje são herdeiros da escravidão de ontem.

Eu que não sou negra, me visto de trajes pretos e sou zumbi.

"Mas ninguém sabe da dor
Da tragédia da cor
Negra

São sobreviventes, arestas, anomalias, fato.
Fruto da exclusão social neoliberal."


Pintura por Antônio Parreiras.

Já existiu um mundo sem drogas?

Há 40 anos os EUA levaram o mundo a declarar guerra às drogas, numa cruzada por um mundo livre de drogas. Mas, os danos causados pelas drogas nas pessoas e na sociedade só cresceram. Abusos, informações equivocadas, epidemias, violência e o fortalecimento de redes criminosas são os resultados da guerra perdida numa escala global. Num mosaico costurado por Fernando Henrique Cardoso, Quebrando o Tabu escuta vozes das realidades mais diversas do mundo em busca de soluções, princípios e conclusões. Bill Clinton, Jimmy Carter e ex-chefes de Estado, como Colômbia, México e Suíça, revelam porque mudaram de opinião sobre um assunto que precisa ser discutido e esclarecido. Do aprendizado de pessoas comuns, que tiveram suas vidas marcadas pela Guerra às Drogas, até experiências de Dráuzio Varella, Paulo Coelho e Gael Garcia Bernal, Quebrando Tabu é um convite a discutir um problema com todas as famílias.
O ex-presidente FHC  é quem ancora o filme tanto com depoimentos próprios como levando a câmera a lugares como Holanda, Suíça, EUA, Portugal e favelas do Rio de Janeiro. FHC defende a descriminalização das drogas. Para ele, a guerra contra o tráfico não pode ser vencida. A legislação brasileira está ultrapassada - o viciado deveria ser tratado não como um criminoso, mas como um doente que precisa de tratamento. E, ainda, o usuário deveria encontrar meios de conseguir a droga sem ter de buscá-la com um traficante.
Com a ajuda de animações, de imagens de arquivo de TV, "Quebrando o Tabu" se movimenta por meio de uma edição ágil e eficiente. O roteiro é muito bem amarrado: vai atrás de depoimentos de ex-políticos como Bill Clinton e Jimmy Carter (EUA), Ruth Dreifuss (Suíça), Ernesto Zedillo (México), de personalidades, ex-viciados e ex-presidiários.
FHC vai aos EUA e conversa com adolescentes em escolas. Vai à Holanda e visita os coffee shops de Amsterdã, onde é permitida a venda e o consumo de maconha. Vai a Portugal e ouve de autoridades que a descriminalização de drogas ocorrida ali colhe resultados mais positivos do que negativos. No Rio de Janeiro, conversa com moradores de favela e com gente de iniciativas como o AfroReggae.

Quebrando o Tabu nos torpedeia com dados e informações estatísticas sobre o tráfico e o consumo de drogas - dados e informações que corroboram a tese do documentário de que a descriminalização é a solução. Concorde-se ou não com essa tese, o documentário enriquece o debate.

Assista abaixo o documentário completo, reflita e deixe sua opnião:

Como nascem os monstros – Confissões de um ex-PM do Rio

Quem poderia imaginar que quatro PMs de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) — cuja proposta é justamente a de levar segurança a áreas pobres — fossem capazes de torturar até a morte um inocente, com a cumplicidade dos superiores e a omissão de mais 21 policiais? Para qualquer pessoa que tenha conhecido a banda podre da PM, como aconteceu com Rodrigo Nogueira, carioca de 32 anos, o Caso Amarildo infelizmente não é exceção. Entre 2005 e 2009, o soldado Rodrigo usou a farda, o distintivo e as armas cedidas pela corporação para extorquir dinheiro de quem estivesse fora da lei ao cruzar seu caminho, torturar traficantes, negociar e vender a liberdade de perigosos assaltantes, julgar e condenar à morte criminosos e suspeitos de crimes, participar de ações da milícia e matar a sangue-frio, sem piedade. Pela primeira vez um ex-PM do Rio confessa publicamente ter cometido tamanhas atrocidades e revela como funciona o esquema que corrompe praticamente toda a cadeia hierárquica da corporação, do soldado ao coronel.
 
Para expiar sua culpa, Rodrigo criou um personagem, o soldado Rafael, o protagonista que narra em primeira pessoa “Como nascem os monstros — A história de um ex-soldado da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro” (Editora Topbooks), lançado mês passado. Qualquer semelhança com a realidade não é nenhuma coincidência. Depois que foi preso em novembro de 2009 na Unidade Prisional da PM — condenado por tentativa de homicídio e de extorsão — Rodrigo considerou uma missão revelar o sistema de uma das maiores corporações policiais do país, que está na berlinda por episódios como o de Amarildo ou por ter perdido o controle de manifestações que acontecem desde junho.
– Alguém precisava dar real entendimento ao que acontece dentro dos quartéis da PMERJ, quais são os fatores que transformam homens comuns, pais de família, em assassinos alucinados e sem remorso, e isso só seria possível através do prisma de quem viveu no inferno e que já não tinha mais nada a perder. Não escrevo para ser reconhecido ou festejado, mas sim para que o nível de podridão da PMERJ seja escancarado de vez e de uma maneira que não tenha mais volta, para que todos os leitores abram os olhos e percebam que não passamos todos de uma reles massa de manobra de interesses muito mais terríveis e obscuros, que todos dias vendem morte e insegurança, para poder pedir seu voto de novo daqui a quatro anos — afirma Rodrigo, em entrevista por carta, na qual não deixou de responder nenhuma das 42 perguntas.
Apesar de ter confessado vários crimes, o ex-PM Rodrigo Nogueira nega ter praticado justamente os crimes que o levaram a uma condenação total de 30 anos e oito meses de prisão, na esfera civil e militar. Ele foi condenado a partir do depoimento de uma vendedora ambulante, que acusou ele e um colega de terem tentado extorquir dinheiro dela e lhe dado um tiro no rosto, além de estuprá-la. O caso ganhou as páginas policiais em 2009. Por ironia, a mulher era a informante que havia ajudado o grupo de Rodrigo no plano de sequestro de um traficante, cuja liberdade custou R$ 250 mil além de cinco fuzis.
– Não sei dizer especificamente quem foi o responsável pelo disparo que a atingiu, mas ela foi submetida a exame de corpo de delito que comprovou que ela não foi sofreu agressão sexual, como havia denunciado — defende-se o ex-PM, acrescentando que foi condenado por 4 votos a 3 e não quis fazer do livro “um plenário” para sua defesa.
Nascido e criado numa área pobre de Nova Iguaçu, Rodrigo cursou a Escola de Aprendizes Marinheiros de Santa Catarina, acreditando que ia participar de alguma guerra. Seu sonho era pegar em armas para defender a sociedade, e foi isso que acabou levando-o à Polícia Militar. O protagonista do livro inicia sua trajetória na PM como uma espécie de paladino da Justiça, realmente acreditando que iria “servir e proteger”, como diz o slogan da corporação, copiado da polícias americanas. Aos poucos, a convivência com colegas mais experientes, entregues à rotina de violência, o transforma no que ele acreditava ser um combatente urbano, estimulado pela retórica da guerra, na qual policiais viram soldados e traficantes — e até moradores de favelas — os inimigos mortais. Recebe então a senha para saquear os territórios conquistados, como despojos de guerra, e eliminar pessoas a seu próprio julgamento, contribuindo para o círculo vicioso de violência que impregna as ações da polícia nas grandes cidades do país.
– Rafael sente muito remorso pelos homicídios que cometeu, e isso fica bem claro na obra. É isto que mais me incomoda, tanto que a metamorfose só ocorre depois que ele mata a primeira vez — observa o ex-PM escritor.
Apesar de ter conhecido a corporação em 2005, Rodrigo conclui que foi a ditadura de 64 quem usou a PM, no combate à subversão, pois foi quando, segundo ele, a força aprendeu a torturar, sequestrar, “embuchar” (forjar provas) e até matar com extrema eficiência e funcionalidade. Com a volta da democracia, diz ele, esses poderes deveriam ter sido extintos. “Mas nenhum general foi aos batalhões, nenhum curso de reciclagem foi formulado, nada. Enquanto as tropas do Exército recolhiam-se aos quartéis, quem é que continuou nas ruas? A PM. Tudo foi jogado em cima de homens semianalfabetos, mal-pagos e mal-preparados”, afirma no livro, num dos raros momentos em que tenta justificar os erros praticados pelos policiais.
Segundo Rodrigo, o ódio ao bandido vai sendo construído já no Curso de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP), em Marechal Hermes. “A animosidade do policial com relação ao bandido carioca é proveniente do mais puro revanchismo, e vice-versa. Esse ciclo de violência e morte se renova dia a dia, com a repetição de atos de barbárie de ambos os lados, mas sua origem é culpa do aparato estatal”, afirma o soldado Rafael, no livro.
Mas o soldado Rafael perde de vez a ingenuidade e começa a metamorfose de ser humano para monstro depois de cometer o primeiro assassinato a sangue-frio. A vítima é um rapaz que fora atropelado e estava caído no chão, se arrastando e implorando por socorro. Minutos depois, os policiais constatam que era verdadeira a versão de um popular que avisara que tratava-se de um assaltante. O homem caído no chão fora atropelado por outro carro no exato momento em que tentava assaltar um motorista na Radial Oeste, na Zona Norte do Rio. Indefeso e todo arrebentado, o homem balbuciava algo, como se pedisse ajuda. Mas o soldado Rafael decidiu matá-lo e depois simular um tiroteio, como acontece em muitos casos forjados de autos de resistência — o confronto armado com policiais. Em vez da pistola calibre 45 do assaltante, Rafael apresentou na delegacia uma pistola velha. Apesar da sensação de ter virado um monstro, com a execução sumária de um moribundo, Rodrigo vendeu a arma e dividiu o dinheiro com o colega de farda.
No livro, Rodrigo relata como vendeu também um fuzil AK-47 apreendido após confronto com traficantes do Morro do Borel, na Tijuca. Nesse tiroteio, dois bandidos foram fuzilados, depois de reagirem à patrulha de Rodrigo. O comprador foi um chefe de milícia. O matador do grupo, também conhecido como “quebrador”, era um ex-PM, colega de turma de Rodrigo. Apesar de afirmar ter recusado convite para integrar aquela quadrilha, Rodrigo conta também como participou de ação da milícia contra um grupo de traficantes, cujo chefe foi degolado por um homem especialmente encarregado da ação, numa invasão minuciosamente planejada pelos milicianos. A ideia era mandar um recado aos traficantes: desistam desse território. Essa operação clandestina numa favela do Rio foi fruto de delação da namorada do bandido, cansada de humilhações e agressões. A mulata sestrosa tinha tudo do bom e do melhor na favela, mas o traficante não manifestava qualquer respeito por ela. Acabou sendo remunerado com a traição.
Além do cheiro de pólvora produzido pelos relatos sem firulas, o livro “Como nascem os monstros” poderia funcionar como uma espécie de manual da corrupção na Polícia Militar do Rio. Em nove meses, Rodrigo escreveu o livro de 606 páginas, que chamou de romance não ficcional. Rodrigo garante que, tirando um ou outro personagem ou características criadas para esconder os personagens com os quais conviveu no dia a dia da PM, é tudo verdade. O livro destrincha o esquema de corrupção que depende também de alguém disposto a corromper o policial, seja um motorista pego sem habilitação, um usuário de drogas detido logo após sair da boca de fumo ou um chefão do tráfico vítima de um sequestro planejado por uma rara sociedade entre policiais civis e militares. A pessoa é pega em flagrante e parte para o “desenrolo”, que na gíria do submundo significa a forma de se livrar de uma situação incômoda.
– O PM só vale o mal que pode causar – escreve o soldado Rafael, que começou a carreira extorquindo o produto do roubo praticado por pivetes e gangues de bicicleta e chegou a participar do sequestro de um dos chefões do tráfico, que chamou de Rufinol e tem tudo para ser Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol. Era um dos maiores fornecedores de drogas do Rio e dominou o Complexo de São Carlos, no Estácio, procedente de Macaé. Foi um dos primeiros no Rio a montar pequenos laboratórios de refino de cocaína, o que mostra que tinha contatos que trazem a pasta-base da droga, diretamente da Bolívia e da Colômbia. Aliado de Nem da Rocinha, Roupinol foi morto em cerco da Polícia Federal, em março de 2010.
O sequestro de Roupinol foi planejado a partir de informações dadas por um X-9 (informante), com quem os policiais dividiam o dinheiro arrecadado em operações clandestinas de combate ao tráfico, e mais tarde se tornou justamente a denunciante dos crimes que levaram o soldado Rodrigo à prisão.
– Dentre todos os crimes que podem ser praticados quando se está com a farda da PM o sequestro é, sem dúvida, um dos mais maravilhosos – conta Rafael, o alter-ego do ex-PM Rodrigo Nogueira.
O livro explica que o bandido sequestrado pode ficar horas dentro de um carro da polícia ou até mesmo num Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO), o avô da UPP. No caso de os policiais bandidos serem surpreendidos pela corregedoria eles podem alegar que não havia sequestro algum e que, na verdade, a pessoa detida estava prestes a ser conduzida para a delegacia de polícia. Só que a quadrilha que sequestrou o traficante não conseguiu comprar todo mundo, a história acabou vazando e os envolvidos foram sendo de alguma forma punidos, um a um.
Quando não conseguiam sequestrar um chefão, policiais corruptos cobravam propinas do tráfico, pagas semanalmente, diretamente aos agentes fardados e em carros da polícia, em plena luz do dia.
– Depois de comprar um policial, o bandido se sente um pouco dono dele – diz o soldado Rafael, demonstrando rara consciência das consequências da corrupção para a atividade policial.
Segundo Rodrigo, alguns policiais ficam tão submissos ao dinheiro do tráfico que, no batalhão de Bangu nos anos 1990, era comum um famoso traficante desfilar pelas ruas da Vila Vintém fardado e a bordo de uma das recém-chegadas blazer da PM. No São Carlos, os policiais tinham que subir a ladeira com calça arregaçada até a altura dos joelhos, com o fuzil cruzado nas costas, para mostrar que estavam arregados. Até um blindado, o famoso caveirão, pode ser usado como arma de coação na hora de determinar arregos a serem pagos, conta Rafael. Numa das histórias, Rafael conta como o Grupo de Apoio Tático (GAT) do qual fazia parte invadiu uma favela, dominou o local onde era feita a embalagem da droga e torturou barbaramente, com crueldade ímpar, dois traficantes desarmados. Eles foram executados sumariamente depois que se percebeu que não tinham informações que levassem aos chefes da quadrilha. As torturas e execuções são descritas em detalhes, assim como as medidas tomadas para se minimizar os riscos de uma perícia, por exemplo, constatar que as mortes não foram em confronto.
Na entrevista, o ex-PM Rodrigo confessa que raramente os policiais que liberam bandidos perigosos ou vendem armas para traficantes avaliam o mal que estão causando à sociedade:
– O policial que comete esse tipo de crime não pensa nisso. Só o que importa é o lucro. É mais um sintoma da deformidade moral adquirida, quando tudo se torna banal, explicável, lícito – diz Rodrigo, que nega ter vendido armas para traficantes ou colocado em risco inocentes, com a libertação de bandidos.
No livro, entretanto, relata a história de um assaltante que estava na porta de um banco pronto para fazer uma “saidinha de banco”, quando o PM Rafael o surpreendeu. Em vez de levá-lo preso, negociou e vendeu sua liberdade. Deixou, portanto, solto um tipo de criminoso frequentemente envolvido em latrocínio, roubo seguido de morte.
Embora não detalhe todos os casos, Rodrigo revela no livro como o esquema de corrupção parece estar mesmo entranhado em cada setor de um batalhão da PM. O cenário da roubalheira é a Tijuca, bairro de classe média, na Zona Norte da cidade. Ele trabalhou no 6º BPM (Tijuca) e mostra a estrutura que é montada para achacar cidadãos, comerciantes, suspeitos e criminosos. Uma simples verificação de documento pode dar início a um processo que se torna vantajoso para um policial que decide complementar a renda às custas de propina. Segundo Rafael relata, tudo acontece com a cumplicidade e até o estímulo de oficiais da unidade, que colocam os subordinados em atividades estratégicas para a coleta do dinheiro. Em muitos casos, o serviço tem uma taxa fixa e periódica, cobrada pelo oficial, que não quer nem saber como o subordinado vai pagar o que foi combinado. É o trato que garante a pecúnia extra e mantém o subordinado no lugar determinado para conseguir o faturamento.
— Eu cansei de dar dinheiro na mão de major, capitão, tenente. Até para trabalhar em lugar melhor tem que pagar, senão o PM fica baseado a noite toda lá na Conchinchina. E os coronéis pegam dinheiro de tudo quanto é lugar. Tudo no batalhão gira em torno dele. É uma sujeirada sem tamanho, chega a dar nojo – afirma Rodrigo.
A rádiopatrulha é um dos serviços mais cobiçados pelos policiais porque é um dos poucos em que “não é o polícia que corre atrás do dinheiro, mas é o dinheiro que vem até o polícia”. São os “ratrulheiros”, como diz Rafael. Ele atribui a vantagem obtida pelos policiais corruptos “à sempiterna tendência do carioca em querer se dar bem”, a velha Lei de Gérson.
– Se um PM exige dinheiro por conta de uma infração de trânsito que não existe ou ele é burro ou maluco — diz Rodrigo, acrescentando que jamais conheceu algum PM que cobrasse propina de alguém que estivesse dentro da lei.
Com os estabelecimentos comerciais, uma rádiopatrulha pode conseguir bons acordos para estar lá na hora do fechamento – os “fechos”, que nada mais é do que o fornecimento de segurança particular com o aparato estatal. Já as rondas escolar e bancária são coordenadas pelo comando do batalhão, de acordo com seus próprios interesses. Mesmo no caso de atendimento a mortes naturais, os PMs, a pretexto de orientar a família do morto, fazem acertos para favorecer a funerária que vai lhe garantir a “cerveja”.
No serviço de motocicleta, Rafael e um sargento veterano tomaram muita propina de motoristas infratores até que um dia tentaram extorquir dinheiro de um amigo do chefe do serviço. Aí o negócio babou. Rafael lembra que o sargento era bem-humorado. Quando o motorista infrator lhe oferecia um “café” para fazer vista grossa a alguma infração, o sargento dizia que só tomava o Kopi Luwak, um australiano que custa mil dólares o quilo. Indagado o que acha da situação com a Guarda Municipal cuidando do trânsito, Rodrigo diz que “melhorou, mas ainda não é ideal”.
– Existem, sim, diversos casos de corrupção envolvendo GM, porém está sendo como na época do BPTran (Batalhão de Polícia de Trânsito). No começo, está todo mundo satisfeito, mas uma hora a merda vai feder. Pode esperar — afirma o ex-PM.
No Grupo de Ação Tática (GAT), uma mini-tropa de elite do batalhão, conheceu policiais que estão sempre dispostos a combater o crime visando principalmente os próprios bolsos. O destemor deles tem uma função objetiva: atuar em operações clandestinas, como a que invadiu o Morro dos Macacos pela mata e fuzilou sem anúncio um grupo de traficantes que estava de plantão na boca. O líder do grupo era um sargento ferrabrás. Certa vez, ele próprio foi se vingar de um desafeto e, sem querer, eliminou também a criança que acompanhava o homem, num carro. Ficou muito tempo assombrado por esse pequeno fantasma. Mais tarde foi executado por assaltantes na Avenida Dom Hélder Câmara, diante de toda a família, na volta do jantar em que comemorara sua aposentadoria da PM. Os criminosos desconfiaram que ele era policial. Era seu último.
Ainda no 6º BPM, o soldado Rafael conta como funcionava também o esquema do “morrinho”, um dos mais bem organizados planos de achaque a usuários de drogas da cidade, que se tem notícia. O livro conta que teve muito policial que construiu sua casa com o dinheiro extorquido de dependentes químicos, naquele golpe. Os policiais montavam uma “campana” (vigilância) numa área vizinha ao Morro dos Macaos, em Vila Isabel, de onde podiam observar, a uma distância segura, toda a movimentação na boca de fumo do Morro da Mangueira, uma espécie de “drive-thru” do tráfico. Segundo Rodrigo, frequentavam o local celebridades, pagodeiros, advogados, “playboys”, médicos e até mesmo policiais Ali escolhiam os usuários de drogas que deixavam a favela em carros importados e acionavam outra dupla de policiais que estavam num ponto estratégico. Um dos casos que mais rendeu aos achacadores, contado em 12 páginas do livro, foi o de um empresário norueguês com negócios no Rio acompanhado de uma loura, advogada, que pagou lição de moral para os PMs até que se descobriu o que o estrangeiro guardava na cueca — papelotes de cocaína. Num só “bote” os PMs arrecadaram R$ 10 mil mais US$ 2.500. O dinheiro foi pago no belo apartamento da advogada, em São Conrado, onde os policiais assaltaram até a geladeira da vítima.
– Policial tem que ganhar bem. Não para enriquecer, mas para poder pagar uma faculdade, ou a escola dos filhos; as prestações de um carro e o financiamento de uma casa. É claro que não importa o valor do salário sempre haverá alguém propenso à corrupção — nossos queridos políticos estão aí e não me deixam mentir. Entretanto acho difícil encontrar um policial que se arriscaria perder a farda e um salário de R$ 4 mil por um amarrado de queijo apenas ou por uma bacia com peixes, como já vi acontecer. Com efeito, se a carreira oferecesse um salário razoável, atrairia uma parcela mais selecionada de interessados no concurso, o que elevaria o nível cultural e social dos candidatos — afirma Rodrigo.
Mas o policial ganha mal (R$ 1.200 o salário inicial) e muitas vezes acaba vendo nas situações irregulares oportunidades de complementar a renda com o menor esforço possível. Essa postura, por sua vez, aumenta a desconfiança da população nos agentes da lei, o que foi verificado semana passada em pesquisas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O ex-PM Rodrigo Nogueira concorda que os cidadãos cada vez desconfiam mais dos policiais militares:
– O carioca por vezes tem mais medo de encontrar uma viatura da PM no breu da madrugada do que um bonde armado de traficantes indo de um baile a outro. A visão que a população tem da PMERJ está tão desgastada que é preciso um reset. Foram anos de abandono, negligência, de chacinas como a do Borel, de Vigário, da Candelária, da Baixada. Em outros estados a aceitação da população é maior, muito embora o modelo de militarização das polícias esteja sendo cada vez mais questionado. Contudo, o Rio não encontra paralelo quando o assunto é violência policial. Todos são culpados,mas sobretudo as nossas autoridades políticfas, que perdem tempo ocupadas nos seus cambalachos que se esquecem (ou não estão nem ai!) de quanta gente está morrendo nessa guerra miserável, que nunca termina e não tem vencedores. Só perdedores.
A recíproca também é verdadeira, observa Rodrigo: “A população se torna o inimigo, ao homiziar o traficante, dar guarida ao “157″ e bater palmas ou dar de ombros quando um PM é estralhaçado pelas balas dos bandidos. É um círculo vicioso: o cidadão não confia no PM e o PM não confia no cidadão”.
O ex-PM critica também a militarização da força e a disparidade entre os processos de expulsão de um praça e de um oficial. No caso do praça, ele lembra, a decisão é rápida, depois que o policial é submetido a um conselho de disciplina. “É virtualmente impossível que o oficial seja expulso”, observa. Com mais liberdade para agir são os oficiais quem incentivam os comandados a extorquirem mais e a matar mais, conclui Rodrigo.
“Enquanto a Academia de oficiais continuar formando líderes desqualificados, pretensiosos e, acima de tudo, aproveitadores da ignorância dos praças, o ciclo de roubalheira continuará se renovando um dia após o outro. Assassinos obedecendo a assassinos, ladrões prestando continência a ladrões e depois com a mais deslavada demagogia o comandante-geral vem crucificar um ou outro policial preso por cometer algum crime de repercussão na mídia!”, escreve Rafael.
No livro, o soldado Rafael não deixa pedra sobre pedra da corporação. “Ingenuidade pensar que no Bope não tem ladrão. Apenas o objetivo e a forma de escambo variam, pois enquanto o barriga azul cata tudo que estiver pela frente, o caveira corre atrás da mochila (que leva o dinheiro das bocas) e dos bicos (fuzis)”, escreve.
Apesar de descrever detalhes e histórias de policiais com quem trabalhou – que podem vir a ser reconhecidos por ex-colegas – Rodrigo diz que não há receio de que alguém seja descoberto:
– Procurar indícios de crime em minha obra seria como procurar uma machadinha num quarto fedorento de São Petersburgo ou um pilão de cobre esquecido num bolso de algum capote velho – ironiza.
Com estilo dos melhores trailers de suspense, Rodrigo garante que não se autocensurou em nenhum momento, mas mantém sob sigilo os nomes dos personagens da trama.
– É óbvio que tratar de assuntos tão delicados como os de meu livro há que se usar o bom senso, até porque existem outras pessoas envolvidas e não é conveniente arrolá-las em dinâmicas e situações que gerem embaraço. Não diria que me autocensurei, pois contei tudo. Entretanto, sempre cuidando para preservar terceiros e esforçando-me para manter a integridae da história. Onde isso não foi possível, o romancista entrou em ação e deu jeito no problema – conta o ex-PM escritor.
Como conhece bem o sistema ao qual esteve ligado durante cinco anos, Rodrigo pode mesmo salvar a pele com a decisão de proteger nomes e locais exatos das histórias contadas no livro.
Leitor voraz que diz não apreciar literatura policial, Rodrigo conta que desistiu de ler “Tropa de Elite”, o livro que transformou os integrantes do Bope em heróis, e “Sangue Azul”, outro livro sobre a corrupção da PM do Rio. “O texto muito pobre e a inverossimilhança me desanimaram”, critica.
Com uma citação de Nietzche (“Quem conhece monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, ele também olha para dentro de você”), o livro tem referências literárias difíceis de se achar no texto de um ex-PM que conseguiu entrar para a faculdade de direito com o dinheiro ilegal, já que seu salário era de apenas R$ 750,00. Ele cita, entre outros, H.G. Wells e Francis Coppola. Aos 9 anos de idade, venceu um concurso de redação, cujo prêmio foi uma coleção luxuosa das principais obras de Monteiro Lobato. Mais tarde, na Marinha, onde quase chegou a ser cabo, recebeu o prêmio de melhor poesia num concurso, o que por muito tempo foi motivo de piada no quartel.
– Seria impossível eu escrever sem antes ter tido contato com a literatura de verdade, com os textos que são a base do meu pensamento. Os livros são, sem dúvida, instrumentos muito mais poderosos que qualquer fuzil já produzido – filosofa.

Fonte: O Globo