As ilustrações de Luis Quiles

Pedofilia, fome, lucro exacerbado, descrença, indiferença, terrorismo, abusos religiosos, pornográficos, contra a natureza, drogas, velhos nojentos, publicidade, Guantánamo, niilismo, novas drogas e vício em  remédios, putaria violenta, violência psicológica, sexual, hierarquia social, assassinato, aborto, consumismo, neo nazistas, exércitos, menores molestados, mulheres molestadas, ménage, Disneylândia, o diabo em sombra.

A arte é uma excelente ferramenta para manifestar diferentes tipos de emoções. Sejam elas felicidade, tristeza, angústia, rancor e reflexão. O artista espanhol, Luis Quiles, morador de Barcelona e fã de cultura pop e rock, consegue captar as emoções em suas ilustrações críticas e de teor sarcástico. Que abordam problemas sociais, psicológicos, políticos e culturais. As imagens falam por si só.













































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Tarifa zero é solução para o transporte público no Brasil



Quando um sistema entre em crise, todas as saídas paliativas não passam de remendos históricos, que logo rebentarão diante do rio caudaloso da História. E diante de uma situação de crise de um sistema, cabe àqueles que sempre o contestaram indicar claramente quais são suas perspectivas estratégicas, seu sistema substituto. Ou seja, um sistema que seja condizente com seu momento histórico, e com as necessidades da sociedade que dele se utiliza. Florianópolis viveu dois momentos de profunda radicalização na cidade, em 2004 e 2005. Duas revoltas intensas, de semanas de duração, enfrentamento, e violência Estatal, com prisões arbitrárias, utilização de armamento ilegal, etc. Essas revoltas ocorreram como expressão do desgaste, da “falência” – não no sentido financeiro, mas social e moral –, do Sistema de Transporte Coletivo Urbano.

Elas expuseram uma contradição fundamental e insustentável: a necessidade de um transporte coletivo público e voltado para os interesses do desenvolvimento da sociedade, das forças produtivas em geral, e a realidade de um sistema falsamente “público”, controlado por famílias oligárquicas e atrasadas – ou mesmo por grandes corporações internacionais –, e que se pautam fundamentalmente pelo lucro, e não pela res pública. Ou seja, o transporte coletivo é visto como um grande mercado, uma fonte de apropriação de fatias gordas do orçamento das famílias, uma fonte de poder econômico e político. E como tal, interessa que esse sistema seja mantido para esses mesmos grupos.

Acontece que na sociedade existe luta de classes. Que nessa contradição há interesses opostos, e que toda exploração tem seu grau de limite. O dos transportes públicos chegou.
Além das históricas Revoltas da Catraca, em 2004 e 2005 em Florianópolis, a Revolta do Buzú em Salvador, em 2003, e revoltas similares que derrubaram ou contestaram tarifas em Vitória (ES) 2005, Uberlândia (MG) 2005, Criciúma (SC) 2005, Fortaleza (CE) 2005, e Recife (PE) 2005, mostraram que essa é uma onda inevitável. Nesse momento Brasília (DF) e Aracajú (SE) estão em lutas contra aumento de tarifas nos transportes urbanos. E essa onda não vai parar, pelo fato concreto de 38 milhões de brasileiros não terem acesso aos transportes em virtude suas tarifas, e desse número crescer a cada tentativa de novo aumento nos preços.

Existe solução. Ela dependerá de uma combinação bem sucedida de fatores: mobilização popular, concepção estratégica de um modelo de sistema de transportes, e direção/determinação política em aplicá-lo. Do ponto de vista da mobilização popular, há uma expectativa bastante positiva, como saldo de duas vitórias consecutivas (2004/05), e da grande demonstração de força da população nas duas revoltas. Do ponto de vista do modelo, cabe fazer a ampla discussão na sociedade. Nossa determinação é a de ousar. Pensar o transporte como serviço público essencial. O transporte coletivo deve ser retirado das mãos da iniciativa privada, como fator fundamental para superar a pauta da  lucratividade, que é a questão essência que exclui milhões de pessoas do transporte. O transporte deve ser gerido pelo poder público, municipalizado, voltado para os interesses da coletividade, e pautado numa outra forma de financiamento. Ou seja, é preciso pensar numa nova forma de tributação que onere os setores que verdadeiramente se beneficiam do funcionamento diário do transporte coletivo, e não os usuários. Os setores que se beneficiam são os grandes industriais, as grandes empresas de comércio, os detentores dos grandes meios de produção e de circulação de mercadorias. A inversão da lógica “do paga quem usa, para o paga quem se beneficia” é um instrumento importante de democratização do acesso ao transporte coletivo.
 
Com os impostos que o povo brasileiro paga – um dos maiores do mundo –, com o que pagamos de juros, com a distribuição esdrúxula de renda que possuímos, com as opções políticas que isentam os empreendimentos milionários – como o “Costão Golf ” no Santinho – não há dúvidas de que é possível pensar num transporte coletivo público, gratuito e de qualidade, exatamente como deveriam ser a educação e a saúde. É possível!

O Funk grita por socorro!



A “Lei do Pancadão” está valendo em São Paulo. Tocar funk em volume mais alto do que uma conversa normal gera multa de 1 mil reais ao dono do carro estacionado, valores que podem ser duplicados e quadruplicados nas reincidências. Com o “Proibidão de Haddad”, vencem a criminalização do gênero musical e a sociedade que abomina a mais popular manifestação dos jovens das periferias.

O Decreto 54.734 (30/12/2013), assinado pelo prefeito Fernando Haddad, proíbe o som alto de aparelhos de som instalados em carros na cidade de São Paulo. Em qualquer hora do dia, o nível de emissão de ruídos não pode ultrapassar os 50 decibéis, o que equivale a uma conversação normal. Nas zonas residenciais, o limite é de 45 decibéis (um diálogo silencioso) entre 22 horas e 7 manhã. A legislação, que poderia ter sido criada na época do auge do rap, sertanejo, forró ou pagode, tem como alvo preferencial o funk.

Em entrevista à rádio Estadão, o coronel Camilo (PSD), vereador autor do projeto que resultou na lei regulamentada por Haddad, afirmou: “Os pancadões é o que mais incomoda o cidadão de São Paulo. Acontecem de 300 a 400 por final de semana e as pessoas não conseguem dormir. É o som alto, a bebida na rua, é o uso irregular do solo para shows, mas se não tomar providência isso vira um caso de polícia.”

A criminalização do funk já havia sido apontada como um sério problema pelo secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira. Em um encontro promovido pela pasta, dialogou com artistas e produtores do funk paulista. Sua fala, à época, representa uma derrota de seu ponto de vista:

    O funk faz parte de uma realidade de afirmação, de expressão, de desejo, de alegria. A expressão corporal é uma tradição da nossa população. O funk está ligado ao direito de dançar. Como dizia um grupo na Bahia, ‘quem não dança dança’. É um direito que muitas vezes os cidadãos mais conservadores da nossa sociedade não conseguem compreender. É um direito, um direito cultural, um direito fundamental. Faz parte da saúde e da qualidade de vida das pessoas. Como você vai cercear uma coisa dessas? A não ser que você tivesse algo muito melhor para oferecer, mas mesmo assim não acredito que uma postura correta fosse proibir.

São Paulo não é a primeira, nem a última cidade a criar leis para proibir o som alto tocado em carros nas ruas. Cidades como Peruíbe, Diadema, Osasco, Barueri, Carapicuíba e Fortaleza foram pioneiras nessa iniciativa. A Assembleia Legislativa do Paraná aprovou legislação semelhante. O deputado federal Junji Abe (PSD-SP) apresentou o projeto de Lei (6080/2013) para estender a proibição dos “pancadões” para todo o Brasil. A relatora Marina Sant’Anna (PT-GO) pediu a rejeição do projeto, mas considera a iniciativa colega “louvável”. Segundo a parlamentar, os artigos 42 da Lei de Contravenções Penais (de 1941) e os 227 e 228 do Código Brasileiro de Trânsito (de 1997) já prevêem multas a quem perturbar o “sossego alheio”. Afinal, parece que é só disso que se trata.

MC Dede, um dos maiores expoentes do funk paulista, consegue ver um lado positivo, já que ele mesmo se incomoda com as cenas de consumo de drogas que presencia, o incomôdo das pessoas mais velhas e a falta de organização nos bailes improvisados. “O funk gera muito fluxo de rua, então se rolar a proibição as casas de shows vão passar a contratar mais”, afirma. O funkeiro realiza cerca de 40 bailes por mês, cada um deles a um custo de R$ 8 mil. Ele entende que por trás do espírito da lei paira uma perseguição e um preconceito da sociedade em relação ao gênero. “(A lei) Não tira nossa essência. Se isso surgiu na periferia, é a própria periferia que tem que brigar para ver o funk em melhor ambiente. Quem vem de fora acha a gente desordeiro, bagunceiro, mas vai passar anos e anos e o estilo musical mais tocado e ouvido ainda será o funk.”

A perseguição ao funk remete ao surgimento do samba no Brasil. Negros da Bahia migraram para o Rio e se instalaram nos bairros da Saúde e da Gamboa e nos arredores da praça Onze. Era na famosa casa de Tia Ciata, a baiana Hilária Batista de Almeida, na praça Onze, que políticos, empresários e outros abonados se reuniam para comer e dançar ao som do “pagode”. Pixinguinha tocava por lá, assim como Donga, autor do primeiro samba brasileiro, de 1917:

Apesar de bem frequentado, o samba era considerado naquela época um gênero musical de “negros e vadios”, que devia ser tratado como um “caso de polícia”. Na casa de Tia Ciata, a roda de choro na sala sempre dava um jeito de avisar à turma da batucada, que corria solta no quintal, sobre a chegada dos policiais. Mas a perseguição generalizada ao samba e o custo de vida subindo no centro do Rio acabaram por afastar a música e os músicos para os morros, onde o gênero acabou criando novos ares e novos nomes. Nos anos 1930, o samba invadiu as rádios e se firmou com o surgimento dos blocos carnavalescos.

Fonte: Socialista Morena